Crescimento econômico sem educação é utopia*

Por José Martins de Godoy

A grande discussão do momento, entre os diversos setores da sociedade, tem sido a taxa de juros brasileira, que é, de fato, bastante elevada em termos reais. Creio que essa discussão somente se dá porque todos querem o mesmo objetivo: crescimento econômico, com a consequente geração de oportunidades de trabalho e renda para todos, mantendo-se o mínimo de equilíbrio macroeconômico. Certamente a taxa de juros é uma das mais importantes ferramentas para calibrar essas variáveis.

O que muitos se recusam a entender é que, além das limitações conhecidas, o país tem outra barreira crônica para o crescimento econômico. Ela é sintetizada no indicador macroeconômico Non-Acelerating Inflation Rate of Unemploy ment (Nairu). É o patamar mínimo de desemprego que um país pode alcançar sem haver pressão inflacionária. Enquanto nos EUA, o Nairu é de cerca de 3%, economistas estimam a nossa taxa em cerca de 7%. Ou seja, caso o país pratique uma política expansionista, e para tal lance mão de juros mais baixos e maior liquidez no mercado, alcançaria rapidamente um índice de desemprego inferior aos 7%. Isto levaria a verdadeiros leilões pelo trabalhador mais bem preparado; como consequência, haveria pressão salarial e inflação.

O que está por trás de um Nairu alto? É o nível deficiente de preparo de nosso trabalhador, que por sua vez é resultado de nossa ineficiente educação básica. O que esperar da produtividade de um trabalhador que passou por um sistema educacional que, segundo o teste do Pisa, ocupa os últimos lugares em leitura, matemática e ciências, entre os países da OCDE? A situação é insustentável e requer concentração de esforços pelos dirigentes governamentais e a sociedade para melhorar a qualidade do ensino. Para destravar a economia e o desenvolvimento do país, haverá necessidade de treinamentos massivos dos desempregados e melhoria do ensino para os novos.

Esperamos que a discussão se aprofunde a ponto de debatermos as causas reais de nossa estagnação, e não fiquemos na superficialidade utópica de que baixar a taxa de juros é a solução mágica para viabilizar crescimento econômico sustentável.

*Colaborou Rodrigo Coelho de Godoy

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